segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Lições para a imprensa vindas de Cândido Mota


04 Fevereiro 2013



Cláudio Messias*

Era final de um domingo chuvoso e pouco restava a fazer antes de colocar o planejamento da vida em dia e assumir que a segunda-feira de labuta estava por vir. Depois de um almoço com casal de amigos que passa férias no Brasil e estava prestes a retornar a Frankfurt, na Alemanha, e ver futebol na televisão, entrei despretensiosamente na internet. Abri meus e-mails e bisbilhotei na rede social. Via Facebook sou acionado por Márcio Bainho Grilli, companheiro de imprensa, radialista. A pergunta era direta: “você está sabendo que caiu um avião em Cândido Mota?”.

Era muita tragédia para um domingo só. O casal de amigos que almoçou em casa testemunhou, no local, o acidente que nas primeiras horas daquela manhã matara duas mulheres e um homem, todos com idade abaixo dos 30 anos. O choque envolveu um automóvel e um caminhão, na SP-333, rodovia Rachid Reyes, entre Assis e Marília. A notícia da queda da aeronave em Cândido Mota começou com especulação e foi ganhando forma com o passar dos minutos. Acionei, via celular e redes sociais, os contatos de que disponho. E, sim, havia uma informação de uma aeronave que mantivera contato com o aeroporto local, apresentando problemas.

Também em questão de minutos Márcio Grilli confirma que era fato, ou seja, moradores dos arredores do anel viário de Cândido Mota haviam, sim, visto um avião em zigue-zague passando sobre o município, movimento complementado por um barulho forte. Não tive dúvidas: era verdade. Imediatamente, sintonizei a rádio Voz do Vale FM e peguei as entradas iniciais, ao vivo, de José Antônio de Oliveira, o Pardal. Ele reafirmava a informação sobre a queda da aeronave, sem, contudo, condições de dar detalhes.

A partir de então recebo um bombardeio de informações. Nem vou citar algumas delas, pois resumiram-se a especulação. Mas, continham alguns fundamentos e poderiam, sim, ser tornadas públicas. Aqui no Blog, contudo, não tenho por objetivo publicar conteúdos que tenham informação exclusiva, nem de furo. A proposta, em gênero, é outra. Mas, tentando alinhar meus conteúdos editoriais a essa proposta fiz postagem, às 21h30, sobre um “fake” que já corria o Facebook, dando imagem de uma aeronave que seria a que caíra em Cândido Mota. Fake, para quem não sabe, corresponde a um factoide virtual, não condizente à realidade, criado com a intenção de ludibriar e levar pessoas a confiar que trata-se de conteúdo real.

Aí, sim, entrei na linha pela qual criei meu Blog e o reativei em janeiro passado. Advertindo para a falsa postagem da foto – eu havia encontrado, em um site voltado ao agronegócio, a origem verdadeira da foto explorada -, postei as duas fotos, quais sejam, a do fake e a do acidente aéreo que serviu de banco de imagem para o fraudador. Minha intenção era alertar para o fato de haver, com sempre houve, gente que não sabe respeitar a dor alheia e tenta tirar proveito disso. Postei no Facebook o link de meu Blog e, para minha surpresa, o contador de acessos disparou.

Não escondo de ninguém a audiência de meu Blog. Basta olhar ali, no canto superior direito, e qualquer um verá se a média de acessos está ou não bem das pernas. Me limito a dizer que, no senso comum, minha proposta é qualitativa e não quantitativa. Faço e me abro ao debate neste espaço e não tenho vínculo comercial algum. Não por acaso, não tenho links patrocinados expostos, muito menos banners com propagandas. Se você, raro e exceto leitor, tiver de consumir o que eu produzo em forma de textos e imagens, que seja despertado por essa proposta, digo, a-comercial.

Desde que reativei este Blog do Messias, na primeira semana de janeiro de 2013, eu havia somado, até domingo à tarde, ou seja, ontem (03/02/2013), 800 acessos. E cheguei a comemorar, pois o primeiro romper de quatro dígitos estava a caminho. Vejo, agora, no contador, que somo 6.272 acessos. Mais de 5 mil acessos nas últimas 24 horas, extrapolando todos os meus planos de audiência. Tudo isso porque troquei o banho que tomaria depois de dar uma espiada na internet, naquele início de noite de domingo, pela reativação da prática jornalística.

Dialogando com Reinaldo Nunes, meu parceiro de imprensa há mais de duas décadas e meia, fui produzindo os conteúdos conforme a demanda de informações ‘peneirada’. Naquele momento o site do Jornal da Segunda Online estava fora do ar e não restava outra plataforma para lançar as notícias que não fosse o meu Blog. Quanto mais informações eu postava e lançava em forma de atualização, mais acessos tinha. O contador de acessos parecia o Impostômetro instalado no centro financeiro da cidade de São Paulo, girando descontroladamente.

Para confirmar parte das informações que a mim chegavam em forma de especulação eu ouvia a Voz do Vale FM. Pardal lá estava e trazia detalhes que me faziam ticar o que podia e o que não podia ser aproveitado. E assim eu fiz mais de uma dezena de atualizações do Blog. Monitorando outros sites da cidade, da região e mesmo outros Estados, não via, até as 22h00, notícia sobre o incidente. Foi quando ocorreu o movimento inverso, ou seja, de farejador de detalhes que envolvessem o acidente aéreo passei a ser fonte de consulta.

Nesse pique total avancei até as 2h30 da manhã, ora recebendo mensagens via chat do Facebook, ora atendendo telefonemas. Pardal fechou os trabalhos na Voz do Vale antes das 23h30 e, desde então, tive de aumentar a perícia para filtrar o que poderia ser considerado procedente. Foi logo depois, já passado da meia-noite, que recebi as primeiras fotografias feitas por celular no local da queda, imagens que repassei a agências de notícias, emissoras de TV e sites de outras regiões.

De toda essa experiência levo a lição de que o jornalismo continua carecendo, em Assis e região, de entendimento sobre a audiência online. Reinaldo Nunes fez muito bem ao, consolidada a situação de problema técnico no JSOL (Jornal da Segunda Online), postar a notícia diretamente em seu perfil no Facebook. Ele tem assíduos 1.200 internautas que diariamente abrem a página www.jornaldasegunda.com.br para saber o que acontece em Assis e região. E postando a notícia em seu perfil, atendeu parte desse público que, digamos, corresponde a um número respeitável.

Vejo a notícia do fechamento do jornal Oeste Notícias, semana passada, em Presidente Prudente, e fico por demais preocupado. A geração contemporânea de jornalistas não está sabendo entender as aspirações dos leitores por aquilo que se teoriza como sendo notícia a ser consumida. Arrisco dizer que comunicadores e comunicólogos estão com dificuldade de entender de que forma/maneira determinado fato tem de chegar à tela que faz a mediação entre conteúdos e audiência. Não basta, pois, divulgar. Tem de se saber com que linguagem chegar-se-á lá, no prazer de leitura da audiência.

Os jornais impressos estão morrendo e a prova material disso é o Oeste Notícias. Essa morte em série começou, a meu ver, com a extinção da Gazeta Esportiva, que da versão impressa passou, até hoje, a sobreviver na versão online. Outros vieram, como Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil e, mais recentemente, o Jornal da Tarde. Somados, tais crepúsculos desempregaram mais de mil jornalistas nos últimos 15 anos. Só em Prudente, na semana passada, foram 23 profissionais com baixa na carteira profissional, para uma região que lança mais de 40 novos jornalistas diplomados por ano, só na Unoeste e na Uniesp.

Não basta entender o hipertexto, apenas, para dominar a hipermídia. Há uma convergência midiática envolvida, devendo, principalmente, considerar um eixo comum que atraia, na linguagem, três faixas etárias básicas: adolescentes, jovens e adultos. A premissa continua a mesma, ou seja, seja qual for a faixa etária envolvida, leitor é atraído pela notícia impactante. Óbvio, ontem, que quem acessava meu Blog queria, logo, (1) confirmar a notícia, (2) saber o tamanho do avião que caíra e (3) ver imagens da aeronave.

Seguindo essa lógica, daí a importância de rádios, jornais impressos e websites que se comprometem a divulgar conteúdos essencialmente noticiosos lançarem, em flash, notas e/ou manchetes anunciando nem que seja a especulação sobre determinado incidente ou acidente. Em se confirmando, desdobra-se; não se confirmando, esclarece-se e retira-se o conteúdo. A internet permite essa maleabilidade de comportamento, pois não se tem mais past-up, filme ou revelação para fazer, processos de produção jornalística que davam fôlego às redações até que se confirmasse ou descartasse uma notícia.

Não é minha proposta citar nomes de jornalistas ou empresas de comunicação que falharam na cobertura do acidente aéreo ontem. Mas, não deixo de tecer novamente elogios a Pardal, da Voz do Vale, e Reinaldo Nunes, do Jornal da Segunda. Os dois têm cabelos brancos na cabeça e pertencem a uma velha guarda da imprensa que sabe plantar e cultivar a audiência. Souberam e estão sabendo administrar a audiência implicada por um trabalho que fez com que o banho do fim de domingo ocorresse somente nas primeiras horas da madrugada da segunda-feira. Mas, foram dormir, com certeza, com a sensação de convicção de que o máximo em informação fora passado em tempo real. Enquanto os outros... Ah, os outros dormiam. E no ponto!

* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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